A Missão do Espiritismo
PERGUNTA: — Conforme afirmam os espíritas, o espiritismo é realmente a doutrina mais compatível com a evolução do homem atual?
RAMATÍS: — O espiritismo é a doutrina mais própria para o aprimoramento espiritual do cidadão moderno. Os seus ensinamentos são compreensíveis a todos os homens e ajustam-se perfeitamente às tendências especulativas e ao progresso científico dos tempos atuais. É o Consolador da humanidade prometido por Jesus. Cumpre-lhe a missão de incentivar e disciplinar o “derramamento da mediunidade pela carne”, estimulando pelas vozes do Além as lutas pela evolução moral dos seres humanos. Assim, através de médiuns, os espíritos sábios, benfeitores e angélicos, ensinam as coisas sublimes do “Espírito Santo”, conforme a predição evangélica. (*)
(*) “Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu Pai e Ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê e absolutamente não o conhece. Mas quanto a vós conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós. Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito.” João, 14:15, 16, 17 e 26). Vide, também, o capítulo “Missão do espiritismo”, da obra Roteiro, de Emmanuel.
PERGUNTA: — Mas é evidente que antes da codificação espírita os homens também se redimiam através de outras doutrinas, filosofias e religiões. Não é assim?
RAMATÍS: — Indubitavelmente, a maior parte das almas que compõem a humanidade celestial jamais conheceu o espiritismo e ainda provieram de outras doutrinas religiosas, como hermetismo, confucionismo, budismo, judaísmo, islamismo, hinduísmo, catolicismo e outras seitas reformistas. Aliás, algumas dessas religiões nem ouviram falar de Jesus, o sintetizador dos ensinamentos de todos os precursores. Desde o início da civilização humana, as almas evoluíram independentemente de quaisquer doutrinas, seitas ou religiões. O caminho da “salvação” é feito pela ação em prol do bem e não pela crença do adepto.
PERGUNTA: — Considerando-se que o homem salva-se mais pelas suas obras do que pela sua crença, então qual é o papel mais evidente do espiritismo?
RAMATÍS: — Sem dúvida, explicar aos homens o mecanismo da ação e reação que rege o Universo. O Bem será o bem e o Mal será o mal! Isso induz o homem a só praticar boas obras!
PERGUNTA: — Qual é o principal motivo de o espiritismo superar os demais movimentos religiosos do século?
RAMATÍS: — O espiritismo é doutrina mais eletiva à mente moderna porque é despido de adornos inúteis, complexidades doutrinárias, posturas fatigantes ou “tabus” religiosos. Os seus ensinamentos são simples e diretos, sem cansar os discípulos ou fazê-los perder precioso tempo na busca da Verdade. A hora profética dos “Tempos Chegados” já não comporta doutrinas ou religiões subordinadas a símbolos, ritos, superstições e alegorias dogmáticas de caráter especulativo.
PERGUNTA: — Qual é a principal força atrativa do espiritismo sobre o povo?
RAMATÍS: — É a generalização e o esclarecimento das atividades do mundo oculto para as massas comuns, na forma de regras simples e atraentes, proporcionando a iniciação espiritual à “luz do dia”, de modo claro e objetivo, sem terminologias dificultosas ou linguagem iniciática, pois aprende o sábio e o homem comum, o velho e a criança. Os seus fundamentos doutrinários são a crença em Deus, a Reencarnação e a Lei do Carma, constituindo processos e ensejos para o aperfeiçoamento do espírito imortal.
PERGUNTA: — Porventura, o espiritismo não é doutrina eletiva somente aos ocidentais, isto é, a uma parte da humanidade?
RAMATÍS: — As raízes doutrinárias do espiritismo fundem-se com o conhecimento da filosofia espiritual de todos os povos da Terra, como seja a Reencarnação e a Lei do Carma. Por isso, compreendem-no, facilmente, os chineses, hindus, árabes, africanos, latinos, germânicos, eslavos ou saxões. Os próprios judeus, tão arraigados aos dogmas e preceitos mosaístas, ingressam no espiritismo, ajustam-se às práticas mediúnicas e aos seus objetivos filantrópicos. Além de doutrina facilmente assimilável a qualquer criatura, a sua mensagem ajusta-se mais a todos os homens, porque também estuda e disciplina os fenômenos mediúnicos, que são comuns a todas as raças terrícolas. A fenomenologia mediúnica tem sido acontecimento comprovado por todos os povos e civilizações como as da Atlântida, Lemúria, China, Hebréia, Egito, Pérsia, Caldéia, Cartago, Assíria, Grécia, Babilônia, Índia, Germânia ou Arábia. Comprova-se isto pela sua história, lendas ou pelo seu folclore, cujos fenômenos foram evidenciados até nos objetos e nos propósitos guerreiros dos povos mais primitivos. Os escandinavos, principalmente os “vikings”, narram seus encontros com bruxas, sereias, e entidades fascinadoras, que surgiam das brumas misteriosas perseguindo-os durante as noites de lua cheia. As histórias e as lendas musicadas por Wagner em suas peças sinfônicas ou óperas magistrais confirmam o espírito de religiosidade e a crença no mundo invisível por parte dos povos germânicos e anglosaxões. Eles rendiam sua homenagem aos deuses, gênios, numes e os consideravam habitantes de um mundo estranho, muito diferente do que é habitado pelos homens. As lendas brasileiras também são férteis de fenômenos mediúnicos. No cenário das matas enluaradas surge o “boitatá” lançando fogo pelas narinas; nas encruzilhadas escuras aparece o fantasmagórico “saci pererê”, saltitando numa perna só e despedindo fulgores dos olhos esbraseados; na pradaria sem fim, corre loucamente a “mula sem cabeça”, ou na penumbra das madrugadas nevoentas, os mais crédulos dizem ouvir os gemidos tristes da alma do “negrinho do pastoreio”.
PERGUNTA: — Que significa a iniciação à “luz do dia”, popularizada pelo espiritismo no conhecimento do mundo oculto?
RAMATÍS: — Antigamente as iniciações espirituais eram secretas e exclusivas das confrarias esotéricas, cujas provas simbólicas e até sacrificiais serviam para auferir o valor pessoal e o entendimento psíquico dos discípulos. Mas os candidatos já deviam possuir certo desenvolvimento esotérico e algum domínio da vontade no mundo profano, para então graduarem-se nas provas decisivas. Deste modo, o intercâmbio com os mestres ou espíritos desencarnados só era permissível aos poucos adeptos eletivos às iniciações secretas. No entanto, o espiritismo abriu as portas dos templos secretos, eliminou a terminologia complexa e o vocabulário simbólico das práticas iniciáticas, transferindo o conhecimento espiritual diretamente para o povo através de regras e princípios sensatos para o progresso humano. Divulgando o conhecimento milenário sobre a Lei do Carma e a Reencarnação, demonstrou ao homem a sua grave responsabilidade pessoal na colheita dos frutos bons ou maus da sementeira da vida passada. Extinguiu a idéia absurda do Inferno que estimulava virtudes por meio de ameaças de sofrimentos eternos, mas advertiu que mais se salva o homem pelas suas obras do que por sua crença. Esclareceu que ninguém consegue a absolvição dos seus pecados à hora extrema da morte, através de sacerdotes, pastores ou mestres arvorados em procuradores divinos. O céu e o inferno são estados de espírito decorrentes do bom ou do mau viver. Em verdade, o próprio homem é o responsável pela sua glória ou falência. No século XX, o discípulo evolui pelas provas iniciáticas que se lhe apresentam a todo momento na vida cotidiana, sem necessidade de recolher-se a instituições, conventos ou fraternidades iniciáticas. O treinamento do espírito deve ser exercido no convívio de todas as criaturas, pois sofrimentos, fracassos, vicissitudes ou misérias do mundo são lições severas e argüições pedagógicas do Alto, que graduam o ser conforme o seu comportamento. Não é preciso o homem isolar-se do mundo numa vida puramente contemplativa, a fim de alcançar a sabedoria espiritual que o próprio mundo oferece na experimentação cotidiana. O discípulo diligente e disciplinado na argüição espiritual da vida moderna promove-se para nível superior sabendo aproveitar cada minuto de sua vivência atento aos postulados espíritas e submisso aos preceitos evangélicos de Jesus.
PERGUNTA: — Poderíeis dar-nos alguns exemplos práticos dessa iniciação à “luz do dia”?
RAMATÍS: — É evidente que os homens freqüentam igrejas católicas, templos protestantes, sinagogas judaicas, mesquitas muçulmanas, pagodes chineses, santuários hindus, centros espíritas, “tatwas” esotéricos, lojas teosóficas, fraternidades rosacruzes ou terreiros de umbanda, buscando o conhecimento e o conforto espiritual para suas almas enfraquecidas. Mas o seu aperfeiçoamento não se processa exclusivamente pela adoração a ídolos, meditações esotéricas, interpretações iniciáticas, reuniões doutrinárias ou cerimoniais fatigantes. Em tais momentos, os fiéis, crentes, adeptos, discípulos ou simpatizantes só aprendem as regras e composturas que terão de comprovar diariamente no mundo profano. Os templos religiosos, as lojas teosóficas, confrarias iniciáticas, instituições espíritas ou tendas de umbanda guardam certa semelhança com as agências de informações, que fornecem o programa das atividades espirituais recomendadas pelo Alto e conforme a preferência de determinado grupo humano. Mas as práticas à “luz do dia” graduam os discípulos de modo imprevisto porque se exercem sob a espontaneidade da própria vida dos seres em comum. Aqui, o discípulo é experimentado na virtude da paciência pela demora dos caixeiros em servirem-no nas lojas de compras, ou pela reação colérica do cobrador de ônibus; ali, prova-se na tolerância pela descortesia do egoísta que fura a “fila” de espera, ou pela intransigência do fiscal de impostos ou de trânsito; acolá, pela renúncia e perdão depois de explorado pelo vendeiro, insultado pelo motorista irascível ou prejudicado no roubo da empregada. Assim, no decorrer de nossa atividade humana, somos defrontados com as mais graves argüições no exame da paciência, bondade, tolerância, humildade, renúncia ou generosidade. Fere-nos a calúnia dos vizinhos, maltrata-nos a injustiça do patrão, magoa-nos a brutalidade dos desafetos, ou somos explorados pelo melhor amigo. É o espiritismo, portanto, com sua doutrina racional e eletiva à mentalidade moderna, que pode ensinar-nos a melhor compostura espiritual no momento dessas provas iniciáticas à “luz do dia”, sem complexidades, mistérios ou segredos. É tão simples como a própria vida, pois no seio da agitação neurótica e competição desesperada para a sobrevivência humana, o homem do século XX decora os programas salvacionistas elaborados no interior dos templos religiosos ou instituições espiritualistas, para depois comprová-los nas atividades da vida cotidiana.
(A Missão do Espiritismo – Hercílio Mães – Ramatís)